domingo, 3 de fevereiro de 2008
BIOGRAFIA
Hugo Alexandre Guerreiro Januário Marques
O meu nome é Hugo Alexandre Guerreiro Januário Marques, sou “alentejano de gema”, nascido e criado no Baixo Alentejo.
Nasci no dia 28 de Abril no ano de 1974 na freguesia de Santiago Maior, uma das muitas freguesias pertencentes à cidade de Beja, dezoito no total.
O primeiro dia da minha vida, baseando-me no testemunho de minha mãe, foi um acordar quase abrupto para a vida, o primeiro gesto humano que eu recebi de um semelhante meu foi o típico açoite no traseiro, mas foi uma situação à qual reagi bastante bem, visto que, a minha reacção à acção do medico foram uns excelentes e elevados berros e gritos de dor.
Espero que no século XXI os métodos exercidos para verificar se as crianças “têm força nos pulmões” se tornem um pouco diferentes dos mesmos aplicados à minha pessoa.
A minha casa ficava numa aldeia a dez quilómetros de Beja que se chama Cabeça Gorda.
É uma aldeia de um tamanho considerável, visto que é a segunda maior aldeia do distrito, tem cerca de três mil e quinhentos habitantes, duas escolas primárias, uma escola preparatória, um centro de saúde, correios, banco, farmácia, um lar de terceira idade entre outros.
Não vou dizer que é uma aldeia como muitas outras que existem no Alentejo porque, é a minha aldeia, e a minha aldeia, para mim, é a mais bonita de todas!
Começando pela entrada na aldeia, uma avenida larga com passeios também eles largos com uma fileira de laranjeiras ladeando o percorrer da avenida.
À entrada da aldeia começo por descrever, quase como num roteiro turístico, um jardim com as plantas e flores próprias de cada estação do ano, este dividido pelas estradas da aldeia, seguidamente encontramos um largo com uma fonte, esta com a inscrição da data da fundação da freguesia.
Esta fonte, antigamente, tinha o propósito de servir as pessoas que se iam abastecer de agua e também na outra parte servia para dar de beber aos animais.
Na minha aldeia todas as casas são caiadas de branco, a única opção diferente de estética, é a cor da barra: azul, amarela, verde....
Os meus pais, o meu pai de nome António Januário Marques, e minha mãe de nome Ana Matilde Guerreiro Marques, casaram um ano antes do meu nascimento.
A minha mãe também nasceu na Cabeça Gorda, nas antigas denominadas “Casa do Povo”, onde antes de existir o centro de saúde, as consultas e outras necessidades médicas da aldeia eram realizadas numa das várias salas que constituíam a casa do povo.
O meu pai por sua vez pertence a uma aldeia vizinha, a Salvada que fica a um quilómetro de distância da Cabeça Gorda.
Como é um facto constatado, existe em todas as localidades sempre uma rivalidade para com a povoação mais próxima, e a existência de rivalidade entre a Salvada e a Cabeça Gorda também estava presente, e provavelmente, ainda hoje assim é.
Contam-se muitas histórias antigas de factos reais que tiveram acontecimento, uns mais graves que outros, uns bastante caricatos mas no final o que acaba por acontecer mais é o matrimónio entre rapazes de uma aldeia com as raparigas da outra aldeia.
Foi o que se passou com os meus pais, um dia encontraram-se num baile da minha aldeia e foi amor à primeira vista.
Desse matrimónio passados três anos após o meu nascimento, os meus pais, brindaram-me com uma irmã.
A minha irmã ao início era um amor de criança, quando ainda não andava, nem mexia nos meus brinquedos e quando ainda não falava, não fazia queixas a ninguém, portanto a nossa relação era naturalmente pacífica.
Sempre nos demos bem, é claro que passados uns tempos toda a responsabilidade por algo de mau que lhe acontecia a culpa era sempre atribuída a mim, o peso imposto aos irmãos mais velhos.
Durante a minha infância sempre vivemos perto da minha avó materna, e como os meus pais ambos trabalhavam, eu e a minha irmã ficávamos sempre em sua casa com dois primos um pouco mais velhos do que nós, por isso as brincadeiras entre nós “nunca foram muitas”.
É claro que numa aldeia no meio do Alentejo naquele tempo, se uma criança com quatro ou cinco anos se ausentasse de casa para ir para a rua brincar com os amigos não era muito perigoso, tal como é nos dias de hoje em que basta um pequeno descuido dos pais para que algo de mal lhe aconteça. Eu um rapaz travesso, de vez em quando também tinha as minhas “escapadelas” para a rua para ir brincar com os meus amigos.
Perto da minha avó moravam o Mário, o Carlos, o Filipe e o Rui, pelo que, reuníamo-nos sempre no mesmo ponto de encontro mais ou menos à mesma hora, às 9:30. Os quatro, detínhamos um talento enorme para fazer as maldades de uma criança das nossas idades.
Fazíamos as benditas “fisgas” para apanhar pardais (crueldade própria da inconsciência), criança que não tivesse uma “fisga” não sabia brincar, logo corria o risco de ser expulso do grupo. Também íamos buscar fruta ( outro acto condenável e punível) nas hortas dos vizinhos, em que por várias ocasiões tínhamos de fugir a “sete pés” para escapar ao dono.
As brincadeiras mais pacíficas eram como não podia deixar de ser, o futebol e o jogo dos berlindes.
O inicio da escola primária não foi muito mau, como nós já nos conhecíamos todos muito bem, não houve grandes recusas para ir para a escola, ou de não querer largar a mão da mãe e começar a chorar, para nós, era mais tempo que iríamos passar todos juntos.
A nossa professora a D. Maria Guerreiro, era uma senhora já na casa dos cinquenta anos de idade, excelente professora tanto a ensinar como para castigar.
Posso dizer que saí da primária com a lição “muito bem decorada” graças à minha senhora professora a D. Maria Guerreiro.
Quando se tratava de castigar também o fazia, com afinco como todas as outras coisas que eu me recordo que ela fazia, ela ao contrario do que se vive nos dias de hoje tinha “carta branca” dos pais para o fazer sempre que algum de nós se portasse mal, e que bem que ela nos puxava as orelhas ou nos dava as “malditas reguadas” que tanto me doíam na mão.
O primeiro e segundo ano da preparatória também o frequentei na minha aldeia, era chamada a Tele-escola, lembram-se da altura em que a emissão televisiva do canal 1 fechava a seguir ao almoço e só reabria mais para a hora do jantar, durante esse intervalo existiam as emissões da Tele-escola, nas quais uma professora explicava a matéria.
No sétimo ano fui estudar para a escola secundária em Beja, uma grande mudança para mim pois aí já tinha de ir para a cidade sozinho onde não conhecia quase ninguém, a não ser os rapazes da minha aldeia que já lá estudavam.
Foi a primeira vez que andei de transportes públicos sem estar acompanhado de nenhum familiar meu.
Com o passar do tempo e um pouco mais adaptado á cidade e a uma escola secundária com centenas de alunos a maioria deles desconhecidos para mim, as coisas começaram a melhorar, os desconhecidos já não eram assim tantos e já tinha passado a temporada da “Recepção ao Caloiro”, em que éramos obrigados a fazer coisas bastante ridículas que só serviam para nos denegrir a imagem junto de outros colegas, o que era o pior, visto que a tradição da escola era fazer uma coroa no topo da cabeça do tamanho de uma moeda de 2 euros ou um pouco maior, dependia do estado de humor de quem a estava a fazer a dita “Recepção”.
A minha adolescência foi repartida entre os estudos e o convívio com os meus amigos, também foi uma altura em que comecei a aprender um pouco mais de como era a vida dos adultos.
O meu pai trabalhava e ainda hoje trabalha na Junta de Freguesia da minha aldeia, é condutor, mas como pessoa habilidosa que é sempre foi conseguindo uns trabalhos extras (biscates), e eu sempre que tinha os fins-de-semana livres, estes serviam para ajudar o meu pai no trabalho, eu era o seu ajudante.
O meu pai os trabalhos que conseguia eram na maioria pequenas remodelações em casas de pessoas da aldeia, e também trabalhos de serralheiro, ele faz de tudo o que é possível fazer em relação a trabalhar com o ferro e a soldar.
Eu em contrapartida gostava de acompanhar o meu pai, não só pela sua companhia que era muito agradável trabalhar com ele, mas também pelo gosto de aprender e de adquirir um pouco da sua sabedoria, digo isto porque gosto de ser eu a fazer as minhas coisas e de saber fazer, e também pelo dinheiro extra que conseguia juntar, para ter certas coisas que eu queria comprar que, ou os meus pais não conseguiam me dar, ou não achavam que era necessário, por exemplo uns ténis de marca umas calças de marca isto porque nós na adolescência “só nos interessa se for de marca”.
Para alem de trabalhar com o meu pai, também trabalhei em cafés, isto porque o meu pai antes de trabalhar para a Junta de Freguesia, era proprietário de um café na minha aldeia e eu gostei muito de trabalhar no café, principalmente no contacto com o público.
Sempre que tinha férias escolares, conseguia sempre trabalho num dos cafés da minha aldeia só durante o período das férias, até posso dizer que poucos foram os cafés da minha aldeia onde eu não tenha trabalhado, e eles são alguns.
Houve uma altura em que quis experimentar a arte da Caça, pelo que aproveitando o facto do meu tio ser caçador, acompanhei-o numa dessas caçadas.
Fui com ele e com caçadores amigos caçar aos domingos, eu era o seu “mochilheiro”, ou seja ajudante.
Tudo corria bem, havia bastante caça nessa altura e também bastante terra por onde se podia caçar, num certo domingo tudo corria na normalidade até que, o meu tio atirou a uma perdiz.
Ele não a matou, só a feriu, então foi nesse dia que eu me apercebi qual era a minha função como seu “mochilheiro”, eu era o substituto do cão de caça, pois tive de correr bastante para conseguir apanhar a perdiz que o meu tio feriu.
Durante a perseguição á pobre ave ferida, foi um episódio que me fez recuar em relação à caça, pois estava eu a perseguir a perdiz uns metros atrás, quando de repente, ouço tiros na minha direcção, eram outros caçadores a atirar à perdiz que eu perseguia com tanto empenho para a conseguir agarrar. Aquilo tudo assustou-me pois eu ouvia os bagos de chumbo a bater nas árvores perto de mim e que por pouco não me atingiram, foi o fim da minha experiência como “mochilheiro” e potencial caçador, era tudo demasiado perigoso.
Nessa altura a escola não corria de feição, pois estava eu no 9º ano quando reprovei pela primeira vez, tive de repetir no ano seguinte.
Depois no 10º ano, como reprovei a duas das disciplinas de opção, matemática e física, no ano seguinte fique matriculado no 10º ano a fazer as duas disciplinas que eram necessárias para passar de ano, o tempo livre era muito para quem estava só matriculado em duas disciplinas, então os meus pais conseguiram-me um emprego nos correios da minha aldeia, altura em que os correios das aldeias foram entregues ás juntas de freguesia..
Estive um ano a trabalhar e a estudar, fiz a matemática, deixei a física e matriculei-me no 11º ano até à data em que fui convocado para a vida militar.
Fiz os testes na inspecção e escolhi a vida de marinheiro, vida essa que tenho na actualidade.
Foi uma etapa em que comecei deixar a minha aldeia, durante a semana estava na Marinha e ia aos fins-de-semana, aqueles em que não estivesse de serviço.
Depois embarquei nos navios da marinha de guerra, para passar mais tempo ausente da minha aldeia, da minha família e amigos.
Foi num desses embarques em que estava eu nos Açores a fazer uma comissão de três meses, que aconteceu um dos episódios mais tristes da minha vida se não o mais triste.
Estava eu atracado em Ponta Delgada na ilha de S. Miguel, quando tive a triste notícia via telefone, da morte por acidente do meu melhor amigo, o Zé Manuel.
Eu fiquei destroçado e ao mesmo tempo revoltado com o facto de estar tão longe da minha aldeia e dos meus amigos, meti-me num avião para o continente e consegui ainda me despedir do meu grande amigo.
Mas nem tudo na Marinha é mau, aquilo que se vive em alto mar o que se vê, a camaradagem que nos une a todos os locais que nós visitamos, vem por um lado apaziguar a dor e a tristeza de tudo aquilo que deixamos em terra e do tempo que poderíamos passar mais com as pessoas que nos são queridas.
Ingressei na Marinha em 1994, faz catorze anos que sirvo a pátria, sou militar vinte e quatro horas por dia sete dias por semana trezentos e sessenta e cinco dias por ano, e gosto do que faço.
Devido ao facto de o meu local de emprego se localizar em Almada na Base Naval, e ver que estava na altura de sair de casa dos pais para ter uma que fosse minha, comecei a procurar casa, que acabei por adquirir em Alhos Vedros, Moita.
Actualmente vivo em Alhos Vedros há sete anos, sou casado há três e à bem pouco tempo tive a melhor notícia da minha vida, a minha mulher, Carla um filho, vou ser pai!
O meu nome é Hugo Alexandre Guerreiro Januário Marques, sou “alentejano de gema”, nascido e criado no Baixo Alentejo.
Nasci no dia 28 de Abril no ano de 1974 na freguesia de Santiago Maior, uma das muitas freguesias pertencentes à cidade de Beja, dezoito no total.
O primeiro dia da minha vida, baseando-me no testemunho de minha mãe, foi um acordar quase abrupto para a vida, o primeiro gesto humano que eu recebi de um semelhante meu foi o típico açoite no traseiro, mas foi uma situação à qual reagi bastante bem, visto que, a minha reacção à acção do medico foram uns excelentes e elevados berros e gritos de dor.
Espero que no século XXI os métodos exercidos para verificar se as crianças “têm força nos pulmões” se tornem um pouco diferentes dos mesmos aplicados à minha pessoa.
A minha casa ficava numa aldeia a dez quilómetros de Beja que se chama Cabeça Gorda.
É uma aldeia de um tamanho considerável, visto que é a segunda maior aldeia do distrito, tem cerca de três mil e quinhentos habitantes, duas escolas primárias, uma escola preparatória, um centro de saúde, correios, banco, farmácia, um lar de terceira idade entre outros.
Não vou dizer que é uma aldeia como muitas outras que existem no Alentejo porque, é a minha aldeia, e a minha aldeia, para mim, é a mais bonita de todas!
Começando pela entrada na aldeia, uma avenida larga com passeios também eles largos com uma fileira de laranjeiras ladeando o percorrer da avenida.
À entrada da aldeia começo por descrever, quase como num roteiro turístico, um jardim com as plantas e flores próprias de cada estação do ano, este dividido pelas estradas da aldeia, seguidamente encontramos um largo com uma fonte, esta com a inscrição da data da fundação da freguesia.
Esta fonte, antigamente, tinha o propósito de servir as pessoas que se iam abastecer de agua e também na outra parte servia para dar de beber aos animais.
Na minha aldeia todas as casas são caiadas de branco, a única opção diferente de estética, é a cor da barra: azul, amarela, verde....
Os meus pais, o meu pai de nome António Januário Marques, e minha mãe de nome Ana Matilde Guerreiro Marques, casaram um ano antes do meu nascimento.
A minha mãe também nasceu na Cabeça Gorda, nas antigas denominadas “Casa do Povo”, onde antes de existir o centro de saúde, as consultas e outras necessidades médicas da aldeia eram realizadas numa das várias salas que constituíam a casa do povo.
O meu pai por sua vez pertence a uma aldeia vizinha, a Salvada que fica a um quilómetro de distância da Cabeça Gorda.
Como é um facto constatado, existe em todas as localidades sempre uma rivalidade para com a povoação mais próxima, e a existência de rivalidade entre a Salvada e a Cabeça Gorda também estava presente, e provavelmente, ainda hoje assim é.
Contam-se muitas histórias antigas de factos reais que tiveram acontecimento, uns mais graves que outros, uns bastante caricatos mas no final o que acaba por acontecer mais é o matrimónio entre rapazes de uma aldeia com as raparigas da outra aldeia.
Foi o que se passou com os meus pais, um dia encontraram-se num baile da minha aldeia e foi amor à primeira vista.
Desse matrimónio passados três anos após o meu nascimento, os meus pais, brindaram-me com uma irmã.
A minha irmã ao início era um amor de criança, quando ainda não andava, nem mexia nos meus brinquedos e quando ainda não falava, não fazia queixas a ninguém, portanto a nossa relação era naturalmente pacífica.
Sempre nos demos bem, é claro que passados uns tempos toda a responsabilidade por algo de mau que lhe acontecia a culpa era sempre atribuída a mim, o peso imposto aos irmãos mais velhos.
Durante a minha infância sempre vivemos perto da minha avó materna, e como os meus pais ambos trabalhavam, eu e a minha irmã ficávamos sempre em sua casa com dois primos um pouco mais velhos do que nós, por isso as brincadeiras entre nós “nunca foram muitas”.
É claro que numa aldeia no meio do Alentejo naquele tempo, se uma criança com quatro ou cinco anos se ausentasse de casa para ir para a rua brincar com os amigos não era muito perigoso, tal como é nos dias de hoje em que basta um pequeno descuido dos pais para que algo de mal lhe aconteça. Eu um rapaz travesso, de vez em quando também tinha as minhas “escapadelas” para a rua para ir brincar com os meus amigos.
Perto da minha avó moravam o Mário, o Carlos, o Filipe e o Rui, pelo que, reuníamo-nos sempre no mesmo ponto de encontro mais ou menos à mesma hora, às 9:30. Os quatro, detínhamos um talento enorme para fazer as maldades de uma criança das nossas idades.
Fazíamos as benditas “fisgas” para apanhar pardais (crueldade própria da inconsciência), criança que não tivesse uma “fisga” não sabia brincar, logo corria o risco de ser expulso do grupo. Também íamos buscar fruta ( outro acto condenável e punível) nas hortas dos vizinhos, em que por várias ocasiões tínhamos de fugir a “sete pés” para escapar ao dono.
As brincadeiras mais pacíficas eram como não podia deixar de ser, o futebol e o jogo dos berlindes.
O inicio da escola primária não foi muito mau, como nós já nos conhecíamos todos muito bem, não houve grandes recusas para ir para a escola, ou de não querer largar a mão da mãe e começar a chorar, para nós, era mais tempo que iríamos passar todos juntos.
A nossa professora a D. Maria Guerreiro, era uma senhora já na casa dos cinquenta anos de idade, excelente professora tanto a ensinar como para castigar.
Posso dizer que saí da primária com a lição “muito bem decorada” graças à minha senhora professora a D. Maria Guerreiro.
Quando se tratava de castigar também o fazia, com afinco como todas as outras coisas que eu me recordo que ela fazia, ela ao contrario do que se vive nos dias de hoje tinha “carta branca” dos pais para o fazer sempre que algum de nós se portasse mal, e que bem que ela nos puxava as orelhas ou nos dava as “malditas reguadas” que tanto me doíam na mão.
O primeiro e segundo ano da preparatória também o frequentei na minha aldeia, era chamada a Tele-escola, lembram-se da altura em que a emissão televisiva do canal 1 fechava a seguir ao almoço e só reabria mais para a hora do jantar, durante esse intervalo existiam as emissões da Tele-escola, nas quais uma professora explicava a matéria.
No sétimo ano fui estudar para a escola secundária em Beja, uma grande mudança para mim pois aí já tinha de ir para a cidade sozinho onde não conhecia quase ninguém, a não ser os rapazes da minha aldeia que já lá estudavam.
Foi a primeira vez que andei de transportes públicos sem estar acompanhado de nenhum familiar meu.
Com o passar do tempo e um pouco mais adaptado á cidade e a uma escola secundária com centenas de alunos a maioria deles desconhecidos para mim, as coisas começaram a melhorar, os desconhecidos já não eram assim tantos e já tinha passado a temporada da “Recepção ao Caloiro”, em que éramos obrigados a fazer coisas bastante ridículas que só serviam para nos denegrir a imagem junto de outros colegas, o que era o pior, visto que a tradição da escola era fazer uma coroa no topo da cabeça do tamanho de uma moeda de 2 euros ou um pouco maior, dependia do estado de humor de quem a estava a fazer a dita “Recepção”.
A minha adolescência foi repartida entre os estudos e o convívio com os meus amigos, também foi uma altura em que comecei a aprender um pouco mais de como era a vida dos adultos.
O meu pai trabalhava e ainda hoje trabalha na Junta de Freguesia da minha aldeia, é condutor, mas como pessoa habilidosa que é sempre foi conseguindo uns trabalhos extras (biscates), e eu sempre que tinha os fins-de-semana livres, estes serviam para ajudar o meu pai no trabalho, eu era o seu ajudante.
O meu pai os trabalhos que conseguia eram na maioria pequenas remodelações em casas de pessoas da aldeia, e também trabalhos de serralheiro, ele faz de tudo o que é possível fazer em relação a trabalhar com o ferro e a soldar.
Eu em contrapartida gostava de acompanhar o meu pai, não só pela sua companhia que era muito agradável trabalhar com ele, mas também pelo gosto de aprender e de adquirir um pouco da sua sabedoria, digo isto porque gosto de ser eu a fazer as minhas coisas e de saber fazer, e também pelo dinheiro extra que conseguia juntar, para ter certas coisas que eu queria comprar que, ou os meus pais não conseguiam me dar, ou não achavam que era necessário, por exemplo uns ténis de marca umas calças de marca isto porque nós na adolescência “só nos interessa se for de marca”.
Para alem de trabalhar com o meu pai, também trabalhei em cafés, isto porque o meu pai antes de trabalhar para a Junta de Freguesia, era proprietário de um café na minha aldeia e eu gostei muito de trabalhar no café, principalmente no contacto com o público.
Sempre que tinha férias escolares, conseguia sempre trabalho num dos cafés da minha aldeia só durante o período das férias, até posso dizer que poucos foram os cafés da minha aldeia onde eu não tenha trabalhado, e eles são alguns.
Houve uma altura em que quis experimentar a arte da Caça, pelo que aproveitando o facto do meu tio ser caçador, acompanhei-o numa dessas caçadas.
Fui com ele e com caçadores amigos caçar aos domingos, eu era o seu “mochilheiro”, ou seja ajudante.
Tudo corria bem, havia bastante caça nessa altura e também bastante terra por onde se podia caçar, num certo domingo tudo corria na normalidade até que, o meu tio atirou a uma perdiz.
Ele não a matou, só a feriu, então foi nesse dia que eu me apercebi qual era a minha função como seu “mochilheiro”, eu era o substituto do cão de caça, pois tive de correr bastante para conseguir apanhar a perdiz que o meu tio feriu.
Durante a perseguição á pobre ave ferida, foi um episódio que me fez recuar em relação à caça, pois estava eu a perseguir a perdiz uns metros atrás, quando de repente, ouço tiros na minha direcção, eram outros caçadores a atirar à perdiz que eu perseguia com tanto empenho para a conseguir agarrar. Aquilo tudo assustou-me pois eu ouvia os bagos de chumbo a bater nas árvores perto de mim e que por pouco não me atingiram, foi o fim da minha experiência como “mochilheiro” e potencial caçador, era tudo demasiado perigoso.
Nessa altura a escola não corria de feição, pois estava eu no 9º ano quando reprovei pela primeira vez, tive de repetir no ano seguinte.
Depois no 10º ano, como reprovei a duas das disciplinas de opção, matemática e física, no ano seguinte fique matriculado no 10º ano a fazer as duas disciplinas que eram necessárias para passar de ano, o tempo livre era muito para quem estava só matriculado em duas disciplinas, então os meus pais conseguiram-me um emprego nos correios da minha aldeia, altura em que os correios das aldeias foram entregues ás juntas de freguesia..
Estive um ano a trabalhar e a estudar, fiz a matemática, deixei a física e matriculei-me no 11º ano até à data em que fui convocado para a vida militar.
Fiz os testes na inspecção e escolhi a vida de marinheiro, vida essa que tenho na actualidade.
Foi uma etapa em que comecei deixar a minha aldeia, durante a semana estava na Marinha e ia aos fins-de-semana, aqueles em que não estivesse de serviço.
Depois embarquei nos navios da marinha de guerra, para passar mais tempo ausente da minha aldeia, da minha família e amigos.
Foi num desses embarques em que estava eu nos Açores a fazer uma comissão de três meses, que aconteceu um dos episódios mais tristes da minha vida se não o mais triste.
Estava eu atracado em Ponta Delgada na ilha de S. Miguel, quando tive a triste notícia via telefone, da morte por acidente do meu melhor amigo, o Zé Manuel.
Eu fiquei destroçado e ao mesmo tempo revoltado com o facto de estar tão longe da minha aldeia e dos meus amigos, meti-me num avião para o continente e consegui ainda me despedir do meu grande amigo.
Mas nem tudo na Marinha é mau, aquilo que se vive em alto mar o que se vê, a camaradagem que nos une a todos os locais que nós visitamos, vem por um lado apaziguar a dor e a tristeza de tudo aquilo que deixamos em terra e do tempo que poderíamos passar mais com as pessoas que nos são queridas.
Ingressei na Marinha em 1994, faz catorze anos que sirvo a pátria, sou militar vinte e quatro horas por dia sete dias por semana trezentos e sessenta e cinco dias por ano, e gosto do que faço.
Devido ao facto de o meu local de emprego se localizar em Almada na Base Naval, e ver que estava na altura de sair de casa dos pais para ter uma que fosse minha, comecei a procurar casa, que acabei por adquirir em Alhos Vedros, Moita.
Actualmente vivo em Alhos Vedros há sete anos, sou casado há três e à bem pouco tempo tive a melhor notícia da minha vida, a minha mulher, Carla um filho, vou ser pai!
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