“OBJECTIVO”, treino para segurança internacional
“LOCAL”, Plymouth, Inglaterra
“INTERVENIENTES”, Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Turquia
Anualmente, dentro do planeamento operacional e estratégico dos submarinos portugueses, seis semanas estão reservadas ao exercício “FOST”.
Os preparativos que antecedem a partida são pautados por um turbilhão de tarefas e responsabilidades atribuídas a todos os elementos da guarnição. Todos nós temos de garantir a eficácia das mesmas, e individualmente executá-las de acordo com as nossas funções e cargo.
Os cozinheiros aprovisionam o navio com os mantimentos necessários para a viagem.
Os navegadores (radaristas), fazem o levantamento das cartas marítimas e marcam a melhor rota para o destino.
Os electricistas e os condutores de máquinas, efectuam várias rotinas diárias aos equipamentos de bordo para garantir a boa funcionalidade dos mesmos.
Todas as classes unem esforços para a partida final!
A classe dos comunicativos na qual eu me insiro, tem como objectivo garantir que todos os equipamentos e códigos necessários para a realização do exercício, estejam operacionais e actualizados.
Ainda antes da partida, decorrem os Briefings entre os países intervenientes no exercício, onde são discutidos e delineados pelos comandos operacionais, os vários parâmetros que serão comuns a todos. A linguagem militar torna-se universal.
A equipa de comunicações, é constituída por quatro elementos directos especializados, três operadores, no qual eu estou inserido, e um oficial especializado que desempenha a função de chefe de serviço.
Na equipa de operadores, sendo eu o mais antigo (compreenda-se antiguidade é um posto), para alem das minhas funções directas dentro da equipa, junto também a supervisão e a distribuição do serviço dos outros operadores.
A bordo, um comunicativo é um militar que tal como o nome indica desempenha o papel de operador de comunicações. É um militar credenciado pela entidade de segurança nacional com um elevado grau de segurança, visto que é constante o manuseamento com equipamentos e material confidencial e secreto.
O operador tem o conhecimento total do manuseamento de qualquer equipamento de comunicações a bordo, desde os equipamentos de cifrar e decifrar, o transmissor e
receptor de frequências e, de operar no computador o sistema operativo exclusivo das forças armadas para o manuseamento das mensagens recebidas e transmitidas.
Estes equipamentos, para o seu bom funcionamento requerem um alinhamento diário, mensal ou anual, com os respectivos códigos cifrados. Sem eles as comunicações entre as unidades navais envolvidas simplesmente deixariam de ser possíveis.
Para assegurar que os códigos de cifra sejam comuns a todas as unidades navais e outras forças envolvidas (força aérea, exército), existem publicações que contêm toda a informação necessária para que os códigos a utilizar no momento sejam os indicados e não outros quaisquer.
Tendo em conta que se trata de um exercício internacional, este requer um certo tipo de códigos de cifra diferentes dos utilizados em exercícios a nível nacional, deste modo, tenho como função requisitar junto da entidade nacional de cifra os códigos adequados para o respectivo exercício.
Reunidos todos os requisitos, planeado todo o método de trabalho durante o exercício, é chegada a hora da partida.
Três apitos longos assinalam a nossa largada, o navio largou amarras e segue para o seu próximo destino “PLYMOUTH”.
Durante o trânsito, a guarnição a nível interno revê todos os protocolos e matéria, pratica repetitivamente várias manobras de treino com a finalidade de aperfeiçoar técnicas e treinar o pessoal, excluindo também o máximo de falhas possíveis que possam ocorrer durante o exercício em si.
São simulados exercícios de incêndio a bordo nos vários compartimentos do submarino, são simulados também exercícios de entrada de água e de ocupação de postos de combate, entre outros.
Num exercício de simulação de um incêndio a bordo toda a guarnição é interveniente não só na prevenção e detecção, mas também no combate ao foco de incêndio. O militar que detectar o foco de incêndio deve de seguida dar o alarme de incêndio a bordo, falando em voz alta e compreensível (“fogo, fogo, fogo”) ao mesmo tempo identificando o compartimento onde é o incêndio; exemplo: “incêndio no posto AVANTE”.
É dever do militar que detecta o incêndio também se possível efectuar o primeiro ataque ao mesmo, isto porque no submarino estão espalhados vários elementos de ataque a incêndios (extintores, fatos egnifogos, etc.). Se tal acção não for exequível, o militar seguidamente procede ao isolamento físico do compartimento onde se encontra o foco de incêndio.
São fechadas as válvulas de combustível, as válvulas de ventilação é interrompida a energia desse compartimento e abandona o compartimento fechando a porta.
Estes procedimentos efectuam-se adoptando a técnica de asfixia, o fogo fica condicionado a um só compartimento.
O oficial que se encontra de quarto (ao serviço), assim que é dado o alarme pelo militar que detectou o incêndio, faz soar o alarme em todos os compartimentos para toda a guarnição através da rede de difusão geral, dando simultaneamente a ordem para que a brigada de combate a incêndios entre em acção.
Esta brigada constituída por 5 elementos da guarnição de várias especialidades, ocupando cada um a sua função de intervenção. Eu como operador de comunicações se estiver de quarto nesse momento, também faço parte da brigada ocupando a função de investigador.
O investigador é o primeiro a entrar no compartimento, devidamente equipado com um fato egnifogo e uma máscara de oxigénio que ele próprio enverga, certificando-se para sua segurança, de que o material se encontra em condições e a garrafa de oxigénio possui ar suficiente para permanecer no compartimento o tempo necessário para combater o incêndio.
Depois de reportado a toda a equipa da brigada o estado do compartimento, o local exacto do foco de incêndio, exemplo: “o foco de incêndio é junto ao balde do lixo”, as válvulas que por incapacidade de alcance permaneceram abertas, o quadro eléctrico que não foi desligado, o investigador entra no compartimento e como primeira intervenção ele, vai extinguir o foco de incêndio ou o que resta dele e em seguida procederá à continuidade das acções que não foram tomadas para isolar completamente o compartimento (fechar válvulas, desligar quadros eléctricos).
Após o combate e o incêndio se encontrar extinto é reportada a situação ao oficial de quarto que em seguida dará a informação para o resto dos compartimentos através da rede de difusão geral, exemplo: “volta ao exercício de incêndio no posto AVANTE”.
Outro exercício treinado a bordo, designa-se por “veio de água”, ou seja, uma entrada franca de água num compartimento, onde são accionadas medidas diferentes para combater a situação.
Neste treino, o pessoal que se encontra de quarto vai reagir consoante o posto que ocupa e o local onde se encontra.
Após o alarme de veio de água, é ordenado de imediato pelo oficial de quarto que se aumente a velocidade do submarino e com uma inclinação fora da habitual praticada, cerca de 30/35 graus, o submarino é levado o mais rápido possível para a superfície.
Um momento com muita adrenalina, que causa um efeito de”montanha russa”, devido à velocidade e entrada brusca na superfície, momento este apreciado por toda a guarnição.
No decorrer de um exercício táctico, por exemplo um exercício de detecção de outros navios, ocupo o lugar de homem do leme vertical.
O homem do leme vertical como o nome indica tem o volante do submarino na mão, por ordem do oficial de quarto seguindo as manobras do exercício ele manobra o submarino em relação ao seu rumo e velocidade, visto ser uma função paralela enviando através de uma repetidora as ordens para a propulsão.
Chegada a proximidade da entrada do canal no porto de Plymouth, a nossa interacção com os nossos anfitriões tem inicio um pouco antes da entrada no canal com a subida a bordo de um piloto de canal.
Um piloto de canal é um civil militarizado, que conduz os navios estrangeiros em segurança através do canal e o direcciona para o seu local de atracação.
Em seguida ao momento de atracação são despoletadas várias acções, estará um oficial no cais a aguardar a nossa chegada, designado como o “oficial de ligação”, de logística que irão garantir que estejam reunidas as devidas condições durante a nossa estadia, ex: uma linha telefónica, recipientes para tratamento do lixo, transportes se necessário etc.
Como operador de comunicações mais antigo a bordo, desloco-me ao centro de comunicações inglês, para transmitir as mensagens que fazem parte do processo de chegada do navio ao seu destino.
Exemplificando o procedimento: vou informar a minha base ou comando em Portugal da nossa chegada, informando através do Status Repport a situação actual do Submarino, bem como informar todas as outras unidades navais da nossa nova morada durante as seis semanas de exercício.
Depois de tratado o assunto das mensagens, segue-se uma breve reunião entre operadores de ambos os países (portugueses e ingleses), em que se vai verificar toda a informação com respeito a instruções para o exercício, é verificado se os códigos de cifra correspondem, as frequências a utilizar, ou seja, toda uma série de situações para que nada interfira numa boa condução do exercício e se necessário ou se superiormente ordenado proceder a alterações/mudanças técnicas e tácticas que melhore a funcionalidade conjunta do serviço de comunicações.
Durante o exercício “QUE VENÇA O MELHOR”




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